A CRIAÇÃO

 

 Estes quadros foram inspirados pela profundidade da música clássica e contemporânea. A preferência residiu para Emanuel Nunes, músico contemporâneo português, e para Guilherme Luz, músico cósmico. Se o primeiro revelou o valor do frieza do entorpecimento, da lacuna e da falha; o segundo clarificou todo o caos no cosmos mutante. Ambas as sonoridades divergem entre si, mas foram fundamentais para conseguir a unidade nos meus quadros, o movimento e a imagem transcrita das suas obras.

  Se a pintura tem sonoridade, consegui sentir isso mesmo através desta experiência. A minha mão rasgava num desprendimento tal em que a improvisação era a realidade, impelida pela música a tocar.

  No primeiro quadro do “caos”, fica patente que a origem e o fim  são colisão e movimento. Música com tom e sem tom; dança com ritmo e sem ritmo.

  Nos primeiros cinco quadros de “no início era a música e a dança” está patente a correspondência entre os graves e os agudos da música, na forma, no movimento e na cor.

  O que poderá ser um retracto do poder abstracto da música e da pintura, torna-se concreto para a realidade, numa objectividade em  sintonia com o interior do criador.

  Esta experiência também foi bastante importante para valorizar o poder do inconsciente e para refiná-lo. A criatividade está na sua origem. A inconstância e a mutabilidade da imagem pictórica são seus filhos.

  Outra revelação importante, é que se a música inspira a cor e o movimento na imagem pictórica; também é verdade que a sua unidade inspira a dança cósmica e atómica expressa no movimento  do “papagaio galáctico”, das “galáxias” e da “humanidade”.

  Nos sete quadros do “papagaio galáctico” expressa-se a dança, o ritmo universal. Dá-se saliência às mutações, à evolução. Se no início era o som; a música; a vibração em si mesmo, em seguida segue-se a vibração transmitida ao todo. A urgência do movimento; da dança, é imperativo para perpetuar a evolução.

  Mas a evolução não acaba, e a seguir à era do “papagaio galáctico” surge a era das “galáxias”. Em cinco quadros é demonstrado como surgem as primeiras concentrações planetárias, numa harmonia nunca antes intentada. A dança permanece, perpetua. Shiva levanta os seus múltiplos braços e pernas, tendo nos seus extremos as concentrações planetárias. Estas dançam, torneando entre si e sem provocar quaisquer choques. Reina a paz no microcosmos galáctico, enquanto que dentro das concentrações planetárias existe um dinamismo colorido transparecendo que algo mais está para acontecer.

  Na verdade a integração das galáxias e o eclodir das concentrações planetárias, permite condensar de tal forma a energia cósmica, que dizemos que a “matéria humana” está no seu advir.

  Na série “humanidade” evoca-se como os seres ganham razão; como se desprendem da vida galáctica, apesar de ela nunca ser esquecida. São eles que ganham protagonismo. Nos três quadros evocados fica patente que os últimos seres são fruto do universo; de uma fecundação celeste e galáctica através dos polvos celestes e dos seres galácticos.

 

Perante estas evidencias julgo importante dizer que deixei de ver a pintura simplesmente como imagem. Passei a vê-la como música e dança; som e movimento.

  Este percurso pictórico foi como uma viagem, em que a música me transportou.

  Vindo dos céus mais longínquos, em que o caos é uma  efusão, cheguei aos meus seres imaginados. De um brilho celestial, acabei por atracar num planeta com estranhos seres. Que são mais uma graça e um movimento, que uma forma e um estaticismo.

 

 

 

 

 

 

                                                      adn

 

 

 

                      

 galáxia                                                                            papagaio galáctico

 

                   

 

 

 

 

                                      

                                       os seres