O MOVIMENTO

 

 

Este livro tem início com a série Os Céus e a Terra. As séries seguintes fazem parte da percepção analítica de cada um desses componentes. A série O Movimento expressa em termos dinâmicos as características do movimento celeste e terrestre. A série Do Absoluto ao Relativo e do Abstracto ao Figurativo revela que as percepções dos seres terrestres figuram entre o absoluto e o relativo e entre o abstracto e o relativo,  e que por isso é fundamental conhecer a ordem dos opostos, a dialéctica que origina todos os fenómenos. A série Espírito Linear evoca o espírito que concebe a nossa paisagem, o mundo físico realizado pelo o homem. Expressa os sentimentos que daí advêm, os problemas e as soluções.

 

TRAJECTOS

  «O movimento por si só é caótico e dispersivo; tem as suas múltiplas cores, direcções e intensidades. Contudo é pelo movimento que todos os seres, partículas e energias se expressam e vivem. A paragem não existe nesta consciência para a evolução.»

  Se concentrarmos parte da multiplicidade do movimento num conjunto que o justifique, poderemos ficar aparentemente atraídos para a dispersão; para a expansão; para a difusão em que o atrito não tem contemplação.

  Não havendo entraves à singularidade e à parcialidade desse movimento; e não havendo nada que diferencie a intensidade e o volume do mesmo; poderemos estar a apelar ao aumento da velocidade espacial, dentro e fora da nossa existência.

  É o caso do quadro Trajectos que suscita uma grande velocidade devido ao traço variavelmente colorido, curvilíneo, e do mesmo tamanho. Um tamanho pequeno para o espaço que preenche.

 Uma variabilidade no tamanho do traço ou uma homogeneidade na cor diminuiria logo a velocidade que se percepciona no quadro.

  O conjunto inscrito no quadro perpetua-nos para uma quase absoluta vivência do movimento na sua origem, ou seja sem uma direcção definida mas multipartida.

  A inteligência que retiramos desse movimento é vista mais na percepção do conjunto, que propriamente na particularidade de cada traço; apesar da sua dispersão ser o retracto da ausência de um destino; a procura incessante daquilo que não existe. Prova disso mesmo é a concentração da dispersão no centro do quadro, como se inscrevendo num beco sem saída.

  Por todas estas razões associa-se este conjunto ao movimento isolado dos espermatezóides, que na ausência do seu destino; da sua direcção; do seu óvulo, são meras caudas frenéticas num vazio enlouquecido.

  Desta compreensão poderemos traduzir que a absoluta dispersão é o resumo da parcialidade, anulando a criativa e maravilhosa dialéctica entre o movimento dinâmico (os espermatezóides) e o movimento estático (o óvulo). 

 

  

 

 

  

MEDIDAS: 50*70

TÉCNICA: ÓLEO

OBSERVAÇÕES: COL. PART.

 

 

ORBITAS

   

Neste quadro evoca-se a estrutura e a complexidade funcional do organismo cósmico.

  Por um lado visualizam-se estruturas redondas, pesadas e fixas tomando a sua aparente imobilidade; que na verdade não existe devido ao forte relacionamento magnético que as perfila nos respectivos eixos orbitais.

  Por outro lado intercala-se um espaço diversamente colorido que flui sem forma definida; ao contrário das esferas planetárias. Esse espaço que permite fazer o preenchimento do vazio cósmico, contornando toda a matéria condensada.

  Podemos também evocar que em relação às esferas planetárias, elas só se preenchem e se definem como parte do movimento universal, quando visualizamos o todo articulado onde se inserem; ou seja, numa primeira abordagem no seu eixo orbital; numa segunda abordagem no conjunto ordenado das diferentes esferas sobre os seus respectivos eixos; e numa terceira abordagem quando cada esfera é vista sobre o todo cósmico.

  Estamos portanto em condições de dizer que só se tem uma verdadeira consciência do movimento das partes condensadas; (da matéria) quando associada ao todo que a cerca; caso contrário ficaremos sobre a sua aparente imutabilidade.

  Em relação «às coberturas espaciais» elas apresentam em si mesmas (ao contrário das esferas planetárias) o movimento para elas requisitado: a sua desformidade; a sua velocidade e o seu ritmo intrínseco; que apenas é aparentemente diluído quando encaixa os seus limites com as esferas, ou com os outros fluidos espaciais; ou seja quando ocupa o seu lugar no cosmos.

  Assim estamos também em condições de dizer que todas as substâncias que transmitem a intensidade do movimento arriscam-se a atenuar esse dinamismo na sua integração com o todo.  

  Desta forma podemos concluir que tanto a matéria (as esferas), como a energia (o corpo dos espíritos; o vazio, aqui representado pelas coberturas espaciais) diluem a sua definição quando relacionados com o todo; quando deixam de se enquadrar no mundo da divisão e da definição e passam ao mundo da dialéctica relativa, sentindo e percepcionando os patamares do mundo absoluto e indefinido.

  Na verdade, quer na matéria, quer nas formas mais subtis ou energéticas, podemos assistir tanto à mutabilidade como à imutabilidade; depende de onde nos colocamos quando percepcionamos a realidade.

  «Neste quadro podemos ver as bolas como movimento pesado e fixo, alinhadas sobre diferentes eixos orbitais e atraídas pelos respectivos núcleos; mas também os respectivos fluidos como movimento expansivo, leve e dinâmico, sobrevivendo na sua própria unidade, e  limitando-se por outros tantos fluidos.

  Desta estrutura planetária podemos ter a percepção de que o movimento pesado e fixo (a matéria, o mundo material) vive em extrema dependência para subsistir, e que o movimento leve e dinâmico (a energia; o mundo espiritual) vive na sua própria independência, em que os limites espaciais são meras fronteiras das migrações do espírito; das mutações energéticas.»

 

  

 

  

  

 

MEDIDAS: 80*90

TÉCNICA: ACRÍLICO